terça-feira, 2 de dezembro de 2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Análise do conto "O mistério dos hippies desaparecidos", de Moacyr Scliar

Neste conto, Moacyr Scliar apresenta um homem de cinza que passava em frente à Praça Dom Feliciano todos os dias, no Centro de Porto Alegre. Na calçada, sempre estavam estirado hippies que vendiam artesanatos. Em seu sítio, ensinou-os como vender, como ganhar e como gastar o dinheiro arrecadado. Passado algum tempo, escreveu um livro que foi sucesso de vendas - Minha vida entre os hippies - mas passou a temer um dos hippies, que passou a ser um yuppie.

De hippie a yuppie. Essa passagem sintetiza todo o conto, pois mostra um lado do capitalismo: a concorrência. É a regra do livre mercado. O trabalho passava a ser controlado, como numa linha de montagem. O homem de cinza é o progresso, os hippies são o atraso. Essas são algumas mensagens que Scliar quer passar com esse conto.

Moacyr Scliar foi esquerdista na juventude e carregou traços políticos dessa época pela vida toda. "O mistério dos hippies desaparecidos" é claramente uma ironia ao capitalismo ostensivo, que subverte valores e muda conceitos à força. Os hippies deixaram de ser hippies. O colorido de suas roupas deu lugar aos ternos pretos e sóbrios.

O Centauro no Jardim

Certa vez, Moacyr Scliar afirmou que era apaixonado por Porto Alegre desde que nasceu. A cidade sempre é apresentada em seus livros, crônicas e contos. Seja no Bom Fim da sua infância ou no Centro cosmopolita do século XXI, Scliar nunca deixou de ambientar seus personagens nas ruas da capital gaúcha.

Tamanha identificação rendeu um título a ele, "O Centauro do Bom Fim". Este é o título da exposição dedicada ao escritor, que esteve no Santander Cultural entre setembro e novembro de 2014, sob a curadoria do cineasta Carlos Gerbase.

A infância em meio à família e as aulas na Escola Iídiche inspiraram "A Guerra no Bom Fim". A juventude politizada gerou "Max e os Felinos" e "Exército de um Homem Só". A tradição judaica esteve representada em "O Centauro no Jardim".

Moacyr Scliar era um homem de mil e uma profissões. Cronista, médico, escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras, contista, jornalista, professor universitário, e hipocondríaco nas horas vagas. Toda a vida, as fases e faces de Scliar são apresentadas na exposição "O Centauro no Jardim"

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terça-feira, 2 de setembro de 2014

"O Enfermeiro" em curta-metragem


Aqui, fizemos uma livre adaptação inspirada no conto "O Enfermeiro", de Machado de Assis. Por mais que a história tenha sido bastante alterada, a espinha-dorsal (o embate enfermeiro x velho) continua presente. E o final revela uma surpresa não contida no original. Bom entretenimento!

domingo, 31 de agosto de 2014

Analisando "Soneto V", de Mario Quintana

Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto à janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola. . .

Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente. . .
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente. . .

(Soneto presente no livro "A Rua dos Cataventos")

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Neste soneto, Mario Quintana apresenta a história de um menino doente, cujo sofrimento da doença se evai com a cantoria do carpinteiro. Na mesma rua, há um operário triste - o poeta - que compõe o soneto para a alma do menino triste. Mais um belo soneto de Quintana, onde expõe pequenezas do cotidiano humano em linguagem erudita, porém simples.

Analisando "Se eu fosse um padre", de Mario Quintana

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!

(Soneto presente no livro "Nova antologia poética")

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Aqui, Quintana novamente usa de metalinguística para falar do seu ofício. Os padres usam dos discursos baseados em teorias bíblicas ou sermões falando de Deus e sua influência na vida terrena. Neste soneto, o eu-lírico acredita que isso não é necessário para transcender, para purificar a alma. Basta um poema, um belo poema, que segundo Quintana: "sempre leva a Deus!". Uma verdade celestial...

Analisando "Soneto I", de Mario Quintana

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...


Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

(Soneto presente no livro "A Rua dos Cataventos")
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O primeiro soneto do livro "A Rua dos Cataventos" é uma breve e bela reflexão do ofício do poeta: escrever. O poeta, neste soneto, é um paisagista do cotidiano, e aproveita suas palavras para colorir a realidade. É um belíssimo pensamento, afinal Mario Quintana brinca com as palavras e coloca seus questionamentos e idéias no papel. Somente um gênio faz jóias raras como essa. Esse gênio é Quintana.