quarta-feira, 23 de julho de 2014

Analisando o conto "Guapear com Frangos"

"Guapear com Frangos" é um conto de Sergio Faraco, onde o escritor expõe sua veia regionalista, criando um paralelo com Simões Lopes Neto, o grande escritor dos "Contos Gauchescos". O tropeiro Guido Sarasua morre afogado no Rio Ibicui, após tentar atravessá-lo. "Aquele" López, seu amigo, precisa levar o corpo de Sarasua a um local onde possa receber as bençãos, para depois entregar o corpo aos bichos.

Durante a narrativa, nota-se uma verdadeira luta de López contra os bichos, contra o cansaço. O corpo vem a tona após três dias, mas depois é destroçado por diversos animais. Os inimigos de López eram os bichos. Ou seja, o homem pode perder na luta contra a natureza.

Assim como o corpo vai se despedaçando, López também padece durante a jornada. Tem náuseas, vômitos, e tenta resistir a tudo e todos. Não consegue. E no final, exclama: "Me desculpa, índio velho!". O homem perdera a luta contra os animais. Era impossível guapear com frangos, abelhas, gaviões, entre outros inúmeros animais.

Analisando o conto "Não Chore, Papai"

Em "Não Chore, Papai", Sergio Faraco apresenta a história de um menino que ganhou uma bicicleta de sua tia, sendo alvo de disputa entre a vizinhança. Ao deixar que os demais meninos andassem na sua bicicleta, o dono ganhava em troca estampas do Sabonete Eucalol. Certo dia, na hora da sesta, todos dormiam, e o menino e Mariozinho, seu irmão, resolvem sair para pedalar até o rio.

A água fazia o menino viajar pelo mundo, graças às estampas do sabonete que exibiam paisagens do mundo. Eis que o menino não contava com um problema: o pai, que descobriu tudo e chegou em seu Austin. O menino estava pronto para receber reprimendas, o que não ocorreu. Apenas a bicicleta foi ao chão. Sua mãe pediu para que o menino fosse perdoar o pai. Após o diálogo, o menino jurou que jamais perdoaria-o. Passados muitos anos, já homem adulto, ele percebe que um menino não guardaria tamanho rancor no coração e por isso, descobre que perdoou sim o pai.

No conto, podemos perceber uma narração em primeira pessoa. Sergio Faraco apresenta uma bela e reflexiva história: carregamos ódio e rancor para sempre? O homem é capaz de perdoar? O menino, quando criança, jurou em falso, pensou o homem adulto. Ele havia perdoado o pai, mesmo bradando que jamais perdoaria em uma explosão momentânea. Mais uma vez, um conto da infância é retomado para novas conclusões do eu-lírico em idade mais avançada.

Analisando "Dançar Tango em Porto Alegre"

"Dançar Tango em Porto Alegre" é o principal conto do livro homônimo. Um dos melhores do livro.

Em uma viagem entre Uruguaiana e Porto Alegre, um homem e uma mulher se encontram por acaso no mesmo vagão; Segundo o narrador, "é uma jovem senhora de modos esquisitos. Tão quieta, longínqua, e no entanto, ao falar, parecia conter-se". Aos poucos, um foi conhecendo o outro. O narrador descobriu o nome da jovem senhora: Jane.

Uma noite de prazer esperava-os. Antes, Jane expôs os seus sentimentos: o marido enfermo em Porto Alegre, as preocupações, as lástimas, a sensação de que estava perdendo o marido. Jane queria esquecer tudo naquela noite. Foi consumado o ato carnal. De repente, um homem adulto estava se sentindo um menino, perdidamente apaixonado.

No final, o narrador propõe a Jane que dancem tango em Porto Alegre. Um acidente nos trilhos pára o trem. E o conto termina com o narrador afirmando que sente uma nova energia, uma vontade de viver que não vira, e Jane tem o mesmo sentimento. Com certeza valeria a pena dançar tango em Porto Alegre.

A narrativa de Sergio Faraco, focada em apenas dois personagens, faz uma construção bela dos personagens. A cumplicidade entre Jane e o narrador se intensifica cada vez mais, até chegar ao climax, o erotismo. Faraco constrói uma sequência de situações cujos resultados são inesperados pelo leitor. Quem imaginava que uma tímida Jane se revelaria uma mulher faminta por prazer?

Dançar Tango em Porto Alegre é uma expressão figurada para viver a vida. Quando os corpos do narrador e de Jane se atraíram, ambos passaram a sentir uma nova sensação. Ambos querem viver. Apenas isso.

Analisando o conto "A Dama do Bar Nevada"

O conto "A Dama do Bar Nevada" apresenta uma Porto Alegre decadente. Segundo a Dama do Bar Nevada, "antigamente havia cafés, confeitarias, a Rua da Praia ainda era bonita". Além da cidade, essa decadência percebe-se na protagonista. Se na juventude era bela, atualmente estava envelhecida, enrugada.

Um rapaz pobre lanchava no Bar Nevada, enquanto isso, chegara uma senhora perfumada, extremamente maquiada, que pediu um chá com torradas. Ao mesmo tempo, o rapaz não pagou toda a conta porque não tinha dinheiro. A senhora pagou a conta dele. E em seguida, ela convidou-o para um chá.  A conversa foi desenrolando e quando o rapaz se levantou para ir embroa, a senhora suplicou e convenceu-o a lhe pagar. Ele topou. E deixaram o Bar Nevada.

No fundo, ambos precisavam de ajuda. O rapaz precisava de ajuda financeira, pois vivia de bicos e tinha apenas roupas velhas e surradas. Já a senhora precisava de uma companhia, pois o marido havia falecido há muitos anos. Ambos tinham interesses em comum. A Praça da Alfândega vivia situação análoga à velhice da senhora. Anteriormente, era bonita e tinha vivacidade. Agora, era tomada pelo desespero. Os lugares se relacionam intrinsecamente com as pessoas, mesmo que elas não percebam.

Analisando o conto "Majestic Hotel"

"Majestic Hotel" é um conto que compõem o livro "Dançar Tango em Porto Alegre". Conta a história de um homem que reencontra um soldadinho de chumbo que ganhara quando era criança em Porto Alegre. O homem e sua mãe hospedaram-se no Hotel Majestic, e em uma noite, a mãe do protagonista deixou-o sozinho no quarto, enquanto se encontrava com um amante

No entanto, o menino ficou assustado e sentindo que havia sido abandonado. Ao voltar, a mãe trouxe um soldadinho de chumbo, símbolo desse episódio da infância.

O conto de Sergio Faraco é narrado em terceira pessoa. É uma história infanto-juvenil e urbana, pois relaciona-se diretamente com a cidade de Porto Alegre. O contraste entre o universo infantil e adulto é a perca da inocência. Quando criança, o mundo é colorido. Quando adulto, o mundo é cinzento e escuro. A obra do autor é marcada por essa característica.

O Hotel Majestic foi a casa do poeta Mario Quintana por décadas.